Olá, leitores!
Há algo que eu gostaria de compartilhar com vocês aqui no site o mais rápido possível. Como havia dito em artigos anteriores — e, caso me perguntem, nunca deixarei de afirmá-lo —, é muito bom para àqueles que trabalham com a criatividade, como nós, escritores, mantermos um passatempo. Atualmente tenho pensado muito nisso pois mudo as minhas tarefas de lazer de tempos em tempos e, com o intuito de me apegar a uma ou a um grupo seleto de distrações para tais momentos, quis dar início a uma nova empreitada.
É uma espécie de clichê, mas trarei, vez ou outra, artigos sobre língua portuguesa para este espaço! Afinal, se um escritor tem o dever de se manter atualizado sobre esse assunto e de manter um passatempo para os momentos de pouca criatividade, por que não unir essas duas necessidades a nosso favor?
O óbvio que nem sempre enxergamos.
Como já sabemos, escrever não é tão fácil. Dentre todos os desafios que envolvem escrever um bom texto, acabamos nos esquecendo do obvio ou do básico. Afinal, qual a composição daquele conjunto de palavras diante de nós e, principalmente, qual o objetivo do mesmo?
Um texto é o meio que usamos para transmitir uma ideia. Sem um autor (emissor), uma mensagem coerente e um leitor (receptor), não podemos dizer que existe texto, tal qual não podemos dizer que existe uma comunicação. Ou seja, o texto como conhecemos hoje só existe devido a necessidade de nos comunicarmos com outros... De transmitirmos algo.
Pensando bem, no nosso cotidiano, não seria correto dizer que estamos rodeados por textos em todos os lados?
Nossa comunicação é extremamente ampla, indo de meras palavras ditas e esquecidas até um livro completo, que estará à disposição na prateleira da biblioteca pública ou da sua casa, por dezenas de anos. Não bastando, a comunicação está na mensagem de texto que compartilhamos pelo celular, no bilhete que deixamos a um colega ou a um familiar, em um desenho que uma criança usa para se expressar, e por aí vai. Está claro que, para tudo, precisamos nos comunicar e que nossas ferramentas para transmitir nossas mensagens são vastas.
O conteúdo de uma mensagem.
Precisamos nos lembrar de que escrever não é apenas ilustrar uma simples conversa. Para quem escreve há algum tempo, este fato pode não ser uma novidade... Muitas vezes é uma conclusão que você conseguiu alcançar por conta própria, com sua experiência no trabalho. Ainda assim, vale a pena registrar mais uma vez para que fique claro, de uma vez por todas: escrever e conversar são ações distintas que exigem caminhos opostos e que, por vezes, possuem objetivos igualmente diversos.
Para essas duas atividades, usamos mecanismos cognitivos diferentes. A escrita é percebida pela visão e mobiliza regiões específicas do cérebro; diferente da fala, que é percebida pela audição. Assim, como poderíamos tratá-las igualmente? Eu não sei quanto a vocês, mas, para mim, nem a fala, que é um mecanismo imediato e fácil de executar, pode ser tratada de maneira tão leviana.
Nesse ponto, percebemos com mais clareza que cada texto tem uma função. Todo texto tem uma finalidade e a linguagem deve ser empregada a fim de cumprir com a situação em questão e com a manifestação de emoções, de pedidos, do desejo de manter contato, entre outros... Basicamente, o que quero dizer com isso é que nós não usaríamos linguagem informal em um e-mail de trabalho (para uma editora, por exemplo), assim como não falaríamos formalmente com um amigo íntimo em uma conversa trivial no whatsapp.
Quem lida com escrita deve estar ciente dessas variações já que, dependendo de como fazemos uso das palavras, podemos influenciar e atingir grupos diferentes de pessoas – seja variando em faixa etária, interesses, fases e dificuldades da vida, e afins. Preste bastante atenção no seu público-alvo! Talvez este seja um bom assunto para um artigo futuro...
Função de linguagem e elementos da comunicação – Roman Jakobson.
Falando de uma maneira um pouco mais didática, depois de folhear uma antiga apostila de gramática dos tempos de escola, acredito que mencionar o modelo de comunicação de Roman Jakobson (um dos maiores linguistas do século 20, responsável pelo modelo de comunicação mais utilizado dentro das teorias de comunicação) seja indispensável para que entendamos ainda mais os pontos que envolvem toda a estrutura por trás dos textos que criamos, por vezes sem nem pensarmos direito de maneira tão aprofundada.
Por trás das funções da linguagem, temos seis elementos que fazem a sua organização: o remetente (produtor da mensagem) e o destinatário (receptor), que interagem mediante contexto (assunto), mensagem, contato (canal de comunicação) e código. É importante destacar que todo o texto – seja escrito, falado, verbal ou não verbal – precisa articular todos os seis elementos.
Perceba que, em qualquer comunicação, todos esses elementos estarão presentes e, dependendo das intenções dos interlocutores, cada um terá um peso específico – ou seja, cada função de linguagem corresponderia à ênfase de um dos seis elementos da comunicação:
- Comunicação concentrada no remetente: significa dizer que há uma valorização das opiniões pessoais dele, caracterizando a função emotiva ou expressiva.
- Comunicação concentrada no destinatário: significa dizer que há uma tentativa de convencê-lo sobre algo, caracterizando a função conativa ou apelativa.
- Comunicação concentrada no contexto: ou, como dito, o assunto ou a informação que se quer transmitir, caracterizando a função referencial, outrora denominada informativa, cognitiva ou denotativa.
- Comunicação concentrada na mensagem: significa dizer que há atenção ao modo de apresentação da mensagem, caracterizando a função poética.
- Comunicação concentrada no contato: significa dizer que há preocupação com o canal de comunicação, caracterizando a função fática.
- Comunicação concentrada no código: significa dizer que se constrói uma mensagem que discute o código – a própria linguagem –, caracterizando a função metalinguística.
A importância de conhecer o seu destinatário.
Como dito anteriormente, as palavras têm um poder de persuasão; o texto sempre transmite a visão de mundo do remetente; e o objetivo da comunicação é transmitir uma mensagem. Contudo, quando ao destinatário é apresentado o texto, a comunicação pode ser dada como “recebida” ou “assumida”. Isso significa que, ao receber o texto, o destinatário não aceitou os valores pessoais expressos na mensagem e não o incorporou. Ao assumi-lo, por outro lado, fica claro que o destinatário aceitou e incorporou a mensagem do remetente, tornando a comunicação eficiente.
Para que isso aconteça, é necessário compreensão da audiência, a fim de aplicar estratégias específicas e eficientes de persuasão.
Consegue perceber a importância desse assunto para nós, escritores? De todas as pessoas, nós somos os que mais nos comunicamos e, para complementar, usamos a escrita como “ponte” para chegarmos aos potenciais leitores. É imprescindível conhecer o seu público-alvo, saber o que desejam ler, seus costumes e o que os atrai.
Escrever sem definir a sua audiência é tão difícil quanto estar diante do teclado ou do caderno em um quarto escuro. Começamos a escrever a esmo e a embaralhar informações que podem não ser pertinentes a um único grupo de pessoas. Está tudo bem querer alcançar vários tipos de leitores, independente de idade, grupo social ou realidade; mesmo assim, A não pode ser B e vice-versa.
Afinal, como leitores assíduos que somos, precisamos reconhecer que seria desagradável comprar um livro, alimentar expectativas e, no decorrer da história, perceber que se sentiu acolhido em apenas poucos capítulos; ou que, entre o folhear das páginas, não há desenvolvimento ou conexão entre os fatos e sentimentos descritos na história.
Assim sendo, todos nós devemos poder escrever sobre aquilo que mais gostamos — a história que imaginamos somente nós mesmos poderemos compartilhar; mas tudo se torna um desperdício se não pensarmos nem por um momento em quem vai ler nosso trabalho assim que estiver finalizado. Pense sempre onde você quer chegar, como profissional da escrita.
Abraços,