23 de setembro de 2025

 

Olá, escritores e leitores!

Já falamos por aqui sobre gêneros textuais e literários, cada qual com sua própria história. Pesquisar e aprender mais sobre eles é fundamental — tanto para quem escreve quanto para quem lê.

Quando falamos sobre gêneros, não dá para começar por outro caminho: precisamos falar sobre o mais lido e conhecido de todos, o romance.

Muita gente, ao ouvir essa palavra, pensa logo em histórias de amor, casais apaixonados e finais felizes um tanto previsíveis. Mas o romance é muito mais do que isso. Ele é vasto, cheio de possibilidades, abraça conflitos, dramas sociais, aventuras e emoções que vão muito além da ideia de melosidade.

 

RECAPITULANDO, O QUE É GENÊRO LITERÁRIO?

São categorias que organizam os diferentes tipos de textos literários, levando em consideração suas semelhanças formais, estruturais e temáticas. Na literatura, reconhecemos três gêneros principais: narrativo (ou épico), dramático e lírico.

O romance, por sua vez, enquadra-se no gênero narrativo, cuja característica central é a escrita em prosa. Nesse gênero, há a presença de um narrador que conta uma história — real ou imaginária — estruturada em introdução, desenvolvimento e conclusão.

Por fim, mas não menos importante, os elementos fundamentais da narrativa são: narrador, enredo, personagens, tempo e espaço.

 

O ROMANCE

O romance é um dos gêneros literários mais populares e abrangentes. Diferentemente da poesia, do conto ou da crônica, caracteriza-se por ser uma narrativa longa e dinâmica, que acompanha personagens em seus conflitos internos e externos ao longo do tempo.

A história, fictícia ou mesclada à realidade, pode — e muitas vezes deve — se desenvolver em torno de várias tramas. Por essa razão, dizemos que o romance apresenta um enredo denso, rico em personagens e marcado por múltiplos conflitos que se entrelaçam ao longo da narrativa.

Mais do que uma simples história, o romance cria um universo narrativo: descreve ambientes, explora a psicologia, desenvolve relações humanas e convida o leitor a acompanhar jornadas transformadoras.

Entretanto, é importante destacar que, ao falarmos de romance, não nos referimos necessariamente a uma história de amor. O termo designa uma estrutura narrativa específica, como visto na definição acima, e pode abarcar diferentes vertentes, como terror, suspense, ação ou aventura.

Pode parecer redundante, mas o romance que expressa uma história de amor recebe o nome de “romance romântico”, ou seja, trata-se de uma das categorias possíveis dentro do gênero romance.

Por causa dessa elasticidade, é justo afirmar que o romance é o gênero mais amplo e também o mais lido no mundo. Ele comporta inúmeros subgêneros — histórico, psicológico, policial, de formação, fantástico, realista, romântico, entre outros —, e essa capacidade de adaptação o torna o gênero literário mais rico.

No que diz respeito à leitura, pesquisas de mercado editorial revelam que o romance — especialmente o romântico e o de fantasia — está entre os gêneros mais consumidos em todo o mundo. Plataformas digitais, como a Amazon Kindle, confirmam essa tendência, mostrando que romances ocupam com frequência as primeiras posições em vendas e downloads.

 

UMA BREVE HISTÓRIA DO GÊNERO ROMANCE

A palavra romance tem raízes no latim vulgar romanice loqui (“falar em românico”, ou seja, nas línguas derivadas do latim). Inicialmente, na Idade Média, o termo designava narrativas em prosa ou verso escritas nas línguas vernáculas — as chamadas “novelas de cavalaria” (romances de cavalaria).

Já no século XVII, o romance começou a se consolidar como gênero literário distinto, especialmente na Inglaterra e na França, com obras que uniam imaginação, cotidiano e reflexão moral. Exemplos importantes:

  •      Dom Quixote (1605), de Miguel de Cervantes, considerado o “primeiro romance moderno”.
  •      Pamela (1740), de Samuel Richardson, marco do romance sentimental.
  •      Orgulho e Preconceito (1813), de Jane Austen, obra-prima da transição entre romance de costumes e romance psicológico.

No século XIX, o romance atingiu seu auge, tornando-se o gênero por excelência da modernidade, com autores como Balzac, Dickens, Tolstói, Dostoiévski e Machado de Assis. 

 

GRANDES ROMANCISTAS BRASILEIROS

O romance no Brasil tem uma tradição abundante e múltipla, marcada por importantes autores que contribuíram para moldar nossa identidade literária. Desde o século XIX, vários nomes se destacaram e abriram caminhos para novas gerações de escritores e leitores.

Entre os pioneiros, José de Alencar, considerado o fundador do romance brasileiro, com obras como Iracema e O Guarani, que exploram mitos de origem e a formação da identidade nacional. Machado de Assis elevou o gênero ao patamar da literatura universal, com narrativas como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, irônicas, críticas e de estilo inovador.

No início do século XX, surgem Lima Barreto, que denunciou desigualdades sociais em obras como Triste Fim de Policarpo Quaresma, e Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, autora de O Quinze, romance que retrata com sensibilidade a seca no sertão nordestino.

Por sua vez, Jorge Amado popularizou a literatura brasileira em escala internacional ao narrar com humor e realismo a vida na Bahia, em obras como Gabriela, Cravo e Canela e Capitães da Areia. Também se destacam Clarice Lispector, com sua escrita intimista e filosófica em A Hora da Estrela e Perto do Coração Selvagem, e Guimarães Rosa, que revolucionou a linguagem literária em Grande Sertão: Veredas.

Esses são apenas alguns dos romancistas brasileiros que compõe um cenário cultural invejável, expondo a popularidade, a força e a diversidade do gênero. Seus olhares distintos, vozes afiadas e estilos únicos continuam a inspirar leitores e escritores ao longo dos anos.

 

O MAIS FÁCIL DE ESCREVER

Existe um mito de que o romance é “mais fácil” de escrever do que gêneros como poesia ou teatro. Essa ideia surge porque o romance tem grande variedade de estilos e formatos e é um gênero muito popular, dando uma impressão maior de acessibilidade.

No entanto, escrever um romance exige planejamento, consistência, criatividade e fôlego. Manter a coesão de uma narrativa longa, desenvolver personagens complexos e conduzir o enredo até o desfecho é um dos maiores desafios da escrita. Muitos escritores relatam que escrever contos é difícil pela concisão, mas que o romance é igualmente desafiador pela extensão e pela necessidade de sustentar o interesse do leitor por centenas de páginas.

 

O ROMANCE É UM GÊNERO DOMINADO POR MULHERES?

Historicamente, o romance foi o primeiro gênero literário a abrir espaço para a voz feminina. Em meados dos séculos XVIII e XIX, em um cenário hostil e preconceituoso — quando às mulheres era negada a participação em espaços políticos, acadêmicos ou jornalísticos —, a escrita era dominada por homens.

Entretanto, foi justamente através do romance que muitas mulheres encontraram a oportunidade de narrar experiências, refletir sobre a sociedade e questionar papéis de gênero. Era sua chance de se expressarem e, sobretudo, de serem ouvidas — ou lidas.

O caminho mais acessível para isso era o folhetim.
O folhetim consistia na publicação de narrativas em capítulos, veiculadas em jornais ou revistas, com frequência diária ou semanal. Popularizado na França, foi responsável por difundir a ficção e, em grande medida, por despertar nas pessoas o hábito da leitura.

Ser escritora naquela época significava estar ciente de que o trabalho seria duramente julgado, desvalorizado e considerado “menos relevante”. A escrita séria era vista como território masculino. Por essa razão, o anonimato, o uso de iniciais neutras ou a adoção de pseudônimos tornaram-se aliados das mulheres que sonhavam em escrever, publicar e serem lidas.

Entre os exemplos mais notáveis estão Jane Austen, Mary Shelley, as irmãs Brontë e Mary Ann Evans, que assinava sob o pseudônimo George Eliot.

Hoje, as mulheres continuam a ser grandes protagonistas, tanto como autoras quanto como leitoras. O romance segue sendo uma forma de representação e identificação muito poderosa: ao ler e escrever, muitas mulheres se reconhecem como protagonistas de suas próprias histórias, seja em narrativas românticas, fantásticas, históricas ou contemporâneas.

O romance romântico, em especial, é escrito majoritariamente por mulheres e tem um público leitor predominantemente feminino. Isso não significa exclusividade, mas evidência como esse gênero se consolidou como um espaço de expressão criativa, empoderamento e visibilidade para mulheres em diferentes épocas.

 

POR QUE ESTUDAR, ESCRITOR?

Para quem escreve, estudar e compreender os diferentes gêneros literários não é apenas um detalhe técnico: é parte essencial do ofício. Talvez você, leitor que não escreve, se pergunte: “Mas se sou uma autora de romance, por que deveria me preocupar em conhecer poesia, crônica ou até jornalismo?” A dúvida é válida, mas a resposta é simples: porque a escrita de uma obra nunca se limita a um único gênero.

O processo criativo é vasto e multifacetado. Um romance, por exemplo, é um dos gêneros mais ricos justamente porque pode acolher todos os outros dentro de si. Em suas páginas, cabem cartas apaixonadas, notícias de jornal que movimentam a trama, poemas que revelam sentimentos ocultos, descrições minuciosas que exigem paciência, e até diálogos com ritmo teatral. Cada recurso emprestado de outro gênero abre novas possibilidades para tornar a história mais envolvente e real.

É por isso que, ao organizar ideias, escritores recorrem a mapas mentais, fichas, imagens, rascunhos diversos. A narrativa não nasce pronta: ela pede formas variadas de expressão, e quanto mais ferramentas conhecemos, mais preparados estamos para dar corpo às nossas histórias.

No fim das contas, estudar os gêneros é expandir nossa capacidade de contar. Porque a literatura não é feita apenas de palavras, mas de caminhos. Conhecimento nos leva longe — e, mais do que isso, nos dá condições de dar voz às histórias que precisam ser contadas hoje.

 

E POR QUE ESCREVER ROMANCES?

Por que não expressar sua criatividade? O romance é um gênero amplo, que abre espaço para a construção de mundos complexos, para a exploração de novas ideias e para a criação de personagens únicos, sem grandes limitações. A liberdade que o romance oferece é cativante e envolvente, conquistando até mesmo aqueles que ainda hesitam em trazer suas ideias para o papel.

Essas características fazem com que a comunidade de leitores seja tão vasta quanto o próprio gênero — apaixonada como os personagens dos romances românticos e disposta a se conectar profundamente com as histórias.

Esse é o verdadeiro legado do romance. Ao escrever, registramos parte de nós mesmos para a posteridade, moldamos imaginários coletivos por meio da ficção, questionamos padrões, inspiramos reflexões e influenciamos a sociedade. Com as palavras, damos voz, tocamos, transformamos e inspiramos, movidos pelo desejo de oferecer ao mundo o melhor de nós.

E O LEITOR?

Não é só o escritor que se beneficia do estudo dos gêneros literários. O leitor, ao conhecê-los, enriquece ainda mais sua própria experiência de leitura. Entender como cada gênero funciona — suas intenções, estruturas e recursos — ajuda a ampliar o olhar crítico, perceber nuances que poderiam passar despercebidas e valorizar ainda mais o trabalho do autor.

Ao ler uma crônica, por exemplo, você aprende a captar a delicadeza do cotidiano. Na poesia, descobre como as palavras podem carregar múltiplos significados em poucas linhas. No jornalismo literário, experimenta o equilíbrio entre informação e narrativa. E no romance, encontra um mosaico de tudo isso, com a profundidade emocional que só a longa duração permite.

O leitor que explora diferentes gêneros não apenas lê: ele mergulha em perspectivas diversas, expande seu repertório cultural e se torna mais sensível às diferentes formas de expressão humana. Isso fortalece sua capacidade de interpretar o mundo — e, de quebra, torna sua jornada como leitor ainda mais prazerosa.

 

POR QUE LER ROMANCES?

Não há motivo para não ler. É por meio da leitura que exploramos e compreendemos muito mais sobre nós mesmos. Conectamo-nos e nos entendemos melhor a partir das motivações, dilemas e contradições vividas por outros — ou mesmo por personagens fictícios. É através das histórias que encontramos morada e nos vemos representados.

Ler romances é viver outras vidas, conhecer culturas, épocas e realidades distintas. É fugir do que não queremos enfrentar, descansar, nos emocionar, rir ou chorar. Por isso, reafirmo: nunca há motivo para não ler.

PARA CONCLUIR, o romance é o gênero literário mais vasto e plural, capaz de dialogar com diferentes épocas, culturas e públicos. Foi, historicamente, um espaço de resistência e protagonismo feminino, e continua sendo uma das formas de arte mais queridas em todo o mundo.

Ler e escrever romances não é apenas um ato de prazer, mas também de reflexão, empatia e transformação. Independentemente da categoria do romance que lemos ou escrevemos, é importante lembrar que, através dele, daremos asas a imaginação e exporemos ao mundo palavras de poder.