Olá, leitores!
Gostaria de chamar a atenção de vocês para algo muito importante no processo de escrita e publicação de um livro, e que eu mesma deixei de lado quando chegou a hora de conversar com a editora — a sinopse.
Durante o processo criativo, de escrita e revisão do texto, é normal que todo o nosso foco esteja voltado apenas para o que comporá o miolo do nosso original. Afinal de contas, essa parece ser a parte mais importante se comparada ao restante. Como publicaríamos um livro sem o seu conteúdo?
Mas não podemos esquecer que um livro é um conjunto de ideias, trabalho e pessoas. Para que tudo funcione, precisamos, além do miolo, da capa, da revisão, da diagramação, da impressão, das plataformas de leitura, entre outros.
Dentre tantas informações, o escritor autopublicado, outrora não responsável por tantos detalhes, pode e certamente se perguntará o que fazer e, no processo, deixará vários detalhes pendentes. Por essa razão eu espero conseguir dar um pouco de suporte para você que ainda não escreveu a sinopse do seu original!
O QUE É SINOPSE?
Engana-se caso acredite que a sinopse é apenas um “resumão” onde transcrevemos os pontos-chave da história.
A sinopse é um gênero textual expositivo que nos mostra, de forma resumida, o conteúdo de uma obra, filme ou qualquer outra produção artística, de fato. Conforme o dicionário online Oxford Language, sinopse significa um relato breve, uma síntese, um sumário; uma visão geral, golpe de vista lançado sobre o todo de uma ciência, de um objeto de ensino ou de pesquisa.
Escrita sempre na terceira pessoa do singular e no presente, possui uma estrutura objetiva, concisa, em um texto curto que traz elementos essenciais da obra, como o assunto, personagens principais, pontos altos, baixos, desenvolvimento do conflito, e qualquer outro detalhe instigante.
Ou seja, não podemos deixar de lado o objetivo desse texto! Ela expõe as primordiais características da história com o intuito de impactar tanto quanto a capa e influenciar na tomada de decisão do leitor, convencendo-o de que aquele livro é do seu interesse e que deverá ser a sua próxima leitura.
De um ponto de vista simplista, podemos dizer que fazer uma sinopse é algo muito fácil... Afinal, o que são alguns parágrafos para quem escreveu um livro inteiro?
Não é bem assim...
POR QUE A SINOPSE PODE SER UM DESAFIO?
Dentro do miolo do livro — ou seja, no decorrer de tudo que comporá a história — é muito mais fácil organizar nossas ideias. A repetição intensa das revisões que fazemos durante o processo de escrita fazem com que a história fique ainda mais aperfeiçoada. Enquanto criamos, não temos um limite para quantas páginas, parágrafos, linhas e palavras usar, deixando a criatividade correr solta.
Depois de tanto tempo de dedicação e experimentando essa liberdade, dar de cara com a sinopse pode ser um pouco assustador. De repente você tem que falar sobre tudo aquilo que criou em um espaço limitado e com poucas palavras, perguntando-se se será capaz de transmitir todos os sentimentos que derramou nas páginas que já escreveu.
Além disso, sendo a sinopse um chamariz que, com vários outros elementos que compõem um livro, será responsável por atrair os leitores, sentimos que cada palavra que ali consta é decisiva.
Isso faz com que a sinopse seja uma etapa um tanto desafiadora, mas não se desespere antes de terminar a leitura! Não há motivos para temermos um estágio tão importante dentre outros do processo de criação do livro.
POR ONDE COMEÇAR?
Lembrem-se de que existe uma variedade imensa de histórias por aí, de diferentes gêneros. Para cada um existirá uma sinopse e é claro que elas não saíram da mesma forma.
Isso significa que seria impossível construir sinopses seguindo sempre uma mesma receita. Para cada autor, história ou gênero haverá uma maneira mais adequada de criar uma sinopse.
Um bom exercício para fazer e dar início ao processo criativo dessa etapa é pensar o que exatamente você quer que o seu leitor saiba sobre a história antes mesmo de abrir o livro? E por que ele deveria ler o seu livro? Caso qualquer um pedisse para você descrever rapidamente e em poucas palavras a história que está escrevendo, você conseguiria?
Fazendo essas perguntas a si antes de começar a organizar as informações que comporão a sinopse trará muito mais clareza e organização. De tal forma, é possível traçar um caminho que o levará aos pontos principais da sua história e, assim, segui-lo, criando uma sinopse e qualidade.
Ainda que não exista uma receita para criar todas as sinopses do mundo, alguns detalhes precisam ser abordados na maior parte delas e, assim, é possível chegarmos a um esqueleto que servirá a maioria dos gêneros literários.
ESQUELETO DA SINOPSE
Assim como um livro deve ter começo, meio e fim, o mesmo vale para a sinopse. Acrescentar as informações que quer transmitir na sinopse de maneira clara e organizada é essencial para manter a ordem e ajudará a obter bons resultados. A maneira mais fácil de exemplificar o esqueleto que deve ser seguido para confeccionar a sinopse é dividi-lo em parágrafos, mas vale lembrar que o resultado pode variar um pouco dessa estrutura.
1) CENÁRIO E CONTEXTO
Nada faz sentido se não há o que nos cerca. Essa afirmação vale tanto para a sinopse quanto para o livro em si. Ao compartilharmos nossa história, é importante definirmos para o leitor dados que o farão compreender tudo o que o envolverá com a leitura, tais como lugar, época e um contexto geral sobre os pontos relevantes.
2) PERSONAGENS
Juntamente com o cenário e o contexto, é indispensável apresentar o(s) personagem(s) principal(s) e, logo em seguida, os secundários. Não há necessidade de tantos detalhes nessa etapa! Apenas o essencial para que o leitor encontre conexão com a história.
3) CONFLITO
Às vezes o termo “conflito” pode ser um pouco confuso. Pensava ser até errado usá-lo para descrever essa etapa, já que nem sempre falamos sobre uma discussão ou atrito entre os personagens, não é? Contudo, todas as histórias têm o objetivo de ir do ponto A para o ponto B. Isso significa que haverá um desenvolvimento com enfoque em determinado ponto, sendo este o mencionado conflito.
Interno (emocional, ético) ou externo (uma ameaça, um vilão, uma situação adversa), devemos fazer com que a mensagem seja transmitida para haver entendimento do leitor.
4) ANDAMENTO
Nessa etapa é importante que sejamos breves. Uma pequena pincelada sobre o que acontecerá na história é o bastante para ambientar o leitor e fazê-lo entender um pouco mais sobre o tema proposto. Devemos trazer os pontos de destaque da história, seja sobre acontecimentos ou sentimentos, expondo o caminho pelo qual a história seguirá ou o personagem principal caminhará.
5) CONCLUSÃO
A sinopse traz algo sobre o fim da história do livro. Não se preocupe e não se precipite, pois não devemos dizer nitidamente o que acontecerá e estragar a experiência do leitor. Mesmo assim, é interessante ditar o rumo que a leitura o levará, contato brevemente como o principal conflito terminará.
EXEMPLO: UMA ANÁLISE DA SINOPSE DE “RAZÕES E MEMÓRIAS”
Razões e Memórias é um livro envolto por sentimentos — algo que fica muito claro logo no início da sinopse. Perceba:
“Lidar com a morte pode ser algo traumático, ainda mais quando você tem apenas seis anos.”
Só pela introdução, o leitor é capaz de identificar o CONTEXTO tratado na história. É claro que é impossível resumir um livro inteiro em apenas uma oração, ainda mais no caso de Razões de Memórias, que se trata de uma duologia. Porém conseguimos nos dar conta do que será o obstáculo principal do protagonista. Logo, continuamos para a sua apresentação:
“Foi assim para Matheo Gruber que, há onze anos, perdeu sua mãe e, ao mesmo tempo, um pai carinhoso, que nunca mais foi o mesmo.”
Nessa sequência conhecemos o PERSONAGEM enquadrado da história. Isso faz com que percebamos como os tópicos a serem abordados na sinopse mesclam-se conforme a escrevemos. Ou seja, não necessariamente vamos dividir os tópicos do esqueleto da sinopse em parágrafos que apontarão específica e unicamente o contexto, o personagem, o conflito, o andamento e, por fim, a conclusão. Pelo contrário: é interessante transicionar entre um ponto e outro, visando trazer fluidez ao seu texto. É o que acontece na sinopse de Razões e Memórias e de muitos outros livros com os quais cruzamos caminho.
“Seu único refúgio era o seu vizinho e melhor amigo, Adam Gesser, e sua família, que sempre acolhera Matheo como um deles e lhe permitia preencher o vazio que carregava em seu peito.”
Em seguida, percebemos a presença de outro personagem relevante para a história central, inserido no contexto do protagonista. Esse trecho, além de complementar o que já vimos a respeito do contexto e da apresentação dos personagens, vem com a função de ‘fechar’ esses dois tópicos, criando uma abertura para os próximos. Perceba:
“Mas agora, com a notícia de que Adam embarcou em um relacionamento amoroso com uma velha conhecida da escola, Matheo precisa se concentrar em sua independência.”
Uma abordagem sucinta e clara a respeito do tópico que seguia: o CONFLITO. Nesse pequeno trecho deparamo-nos com algo que acontecerá na vida do personagem principal e o fará mudar de alguma forma. Além disso, é importante destacar que não devemos manter em segredo qual será essa mudança! Como discriminado claramente na sinopse, Matheo deverá buscar pela sua independência.
Assim que lemos essa parte da sinopse, pensamos: “certo... ele deverá buscar independência. Mas como fará isso?”. É típico que o leitor tenha essa dúvida neste ponto da sinopse, o que da abertura para o tópico seguinte: o ANDAMENTO.
“Com o apoio de seus amigos, a carreira como professor de matemática se tornará o seu grande objetivo, assim como proporcionará alegrias que ele jamais imaginava poder viver de novo.”
De maneira muito breve, o leitor pode sentir qual será o caminho do personagem; o rumo que a história terá; e até mesmo um pouco do que ele sentirá conforme progredir com a leitura. E, por fim...
“Contudo pelo percurso, ele tropeçará em fatos sobre o passado de sua mãe igualmente antes nunca imaginados e terá que aprender a lidar com dores há muito trancadas em seu interior.”
A CONCLUSÃO da sinopse, mesclada com o andamento da história, traz consigo até onde o protagonista chegará para resolver o seu conflito. No caso de “Razões e Memórias”, ficamos cientes de que Matheo terá que cuidar de surpresas a respeito do passado e passará por uma jornada de autoconhecimento ao confrontar dores esquecidas. “Razões e Memórias” trata-se de uma duologia, como já mencionei em outros artigos, o que significa dizer que o conflito não tem uma resolução no primeiro volume da obra. Por essa razão não temos uma afirmativa de como a história concluirá.
Por isso trago um exemplo de conclusão de uma sinopse de um livro de fantasia: “O protagonista vencerá a batalha com o poder herdado pelos seus ancestrais, mas a reconstituição da paz dependerá do caminho que escolher seguir dali em diante.”
Perceba que essencialmente, na conclusão, estamos cientes do que acontecerá no fim, mas ainda com um mistério a respeito das escolhas do protagonista; de como tudo sucederá até o ponto final da história. É como um gancho que despertará a curiosidade do leitor, detalhe que faz toda a diferença e deve estar presente no decorrer de toda a sinopse.
ALGUMAS DICAS ÚTEIS PARA A CONFECÇÃO DE UMA BOA SINOPSE
Inicialmente, não esqueça do principal: o seu leitor. É importante que saibamos até onde queremos ir com a nossa história e, para chegar a tal objetivo, necessitamos de uma comunicação clara e simples, que nos conecte com nosso público.
Leve em consideração quem está lendo suas palavras e, dessa forma, escreva para ele! Se você escreve livros infantis, converse com as crianças em uma linguagem apropriada através do seu livro. Se escreve para jovens, busque a melhor maneira de se conectar com eles através da história e da sinopse. Assim por diante.
Como já sabemos, objetivo da sinopse é expor ao leitor uma prévia atrativa da história e gerar conexão entre ele e os personagens. É o momento de compartilhar com todos aquela faísca de inspiração que sentiu quando começou a escrever o livro e que serviu como norte para sua escrita desde o início da história.
A sinopse é uma das partes mais importantes do livro, tomando para si parcela considerável do marketing de uma obra. Deve ser envolvente e abraçar aqueles que a lerem com a essência da história do livro. Por essa razão, devemos lembrar o quão importante é atrair o leitor com uma história sucinta e direta, usar gatilhos e iscas para fisgar a sua atenção e gerar curiosidade com a trama e com as personagens.
Sobre o seu tamanho da sinopse, pode variar conforme a formatação do seu livro, gênero e categoria. Caso você publique com uma editora que será responsável pela diagramação e confecção da capa do livro, eles dirão quantas palavras, parágrafos ou caracteres a sinopse deverá ter. Caso você seja um autor autopublicado sem editora, o ideal é buscar por referências.
Na realidade, as referências são importantes não só nesse caso. Seja para seguir exemplos de sinopses bem-sucedidas como para conhecer detalhes de edição, estar ciente sobre as criações de outros autores do mesmo gênero é muito inspirador e importante!
E O QUE NÃO DEVEMOS FAZER?
Entre tantas informações que a história que escrevemos possui, é realmente difícil decidir o que entra e o que sai. Mesmo quando nos exercitamos e fazemos aquelas perguntas iniciais citadas acima — o que exatamente você quer que o seu leitor saiba sobre a história antes mesmo de abrir o livro? E por que ele deveria ler o seu livro? Caso qualquer um pedisse para você descrever rapidamente e em poucas palavras a história que está escrevendo, você conseguiria? —, não conseguimos chegar no melhor resultado.
O que compõe uma sinopse é importante, mas tanto quanto o que fará parte dela, devemos citar aqueles detalhes que não deveriam estar ali.
Evite muitas informações ou detalhes desnecessários sobre a trama. A ideia da sinopse é transmitir um resumo do que está por vir e focar no principal, não havendo espaço para falar sobre tramas secundárias e sem enfoque. Muitas vezes esses detalhes indesejados presentes na sinopse podem fazer com que a história se torne confusa e cansativa.
A sinopse deve ser linear e direta, descritiva e informativa. É importante instigar a curiosidade do leitor tanto quanto expor o tema do livro. Por essa razão, não exagere nas perguntas sobre o enredo. É válido questionar se “Fulado conseguirá atingir seus objetivos?” ou “o que fará em seguida?”, mas a sinopse também deve trazer algumas respostas sobre a história.
Não estrague a surpresa do leitor contando detalhes sobre as reviravoltas e desfechos importantes da história.
Embora a sinopse possa ser vista como uma espécie de crítica a obra, trazendo uma visão que instiga a leitura e que pontua a trama, é imprescindível que não haja avaliações do livro em seu escopo. Não diga que seu livro é “maravilhoso”, “necessário”, “o melhor” ou “inovador”. A sinopse deve expor as informações relevantes sobre a história contada no livro e nada mais.
Da mesma forma, não revele como criou a história. Não mencione o estilo que usou para escrevê-la ou qualquer outro diferencial, como a ordem cronológica ou não de apresentação dos fatos; ou o narrador da trama; ou os temas sobre os quais ela versa. Alguns detalhes como os anteriores devem ficar a critério do julgamento do leitor.
Antes de enviar o livro para a publicação, já sabemos todos os sentimentos que envolvem aquela história. Ou, pelo menos, estamos cientes do que queremos que nossos leitores sintam ao ler o livro. Mas é importante que não falemos como as pessoas devem se sentir antes, durante ou depois da leitura. Cada um deve tirar sua própria conclusão a respeito da história! Alguns vão amar e outros não... É assim que deve ser.
Evite usar flashbacks ou complicações temporais na sinopse. Esses detalhes demandam muito espaço para explicação. O uso de um flashback na sinopse pode fazer com que o leitor fique confuso entre os saltos de tempo, tornando a história desgastante e frustrante.
Por último, fuja de clichês desnecessários. Se sua história é um clichê ou uma sátira sobre o tema, tudo bem, desde que esteja claro para o leitor. Contudo usar termos e temas já saturados pode ser uma armadilha, dificultando a conexão do público com o enredo.
FEEDBACK...
Para finalizar, podemos perceber que dar um gostinho do que vem por aí é a essência de uma sinopse. Construí-la, mesmo que pareça uma tarefa fácil se comparada a escrever um livro inteiro, sem dúvidas pode ser mais difícil do que parece. Para tal tarefa possuímos um esqueleto que pode nos ajudar — e muito — no processo.
Mas a escrita não precisa e nem deveria ser tão solitária, ainda mais para o escritor autopublicado. LEITORES BETA podem ajudá-lo a sanar as dúvidas que permeiam a versão final da sua sinopse. É claro que às vezes você só precisa de alguém que diga “gostei, compraria seu livro sem pensar!” ou “falta alguma coisa...”
Mesmo que escritores sejam leitores muito ativos, somente outros leitores podem nos ajudar a ter certeza sobre a nossa criação.
Escreva, reescreva e revise várias vezes. É uma fase cansativa, mas com um peso imenso. Mesmo que com tanta dedicação, é muito provável que, após mandar para a editora ou para os leitores beta, ainda haja mudanças a serem feitas...
Além disso, a sinopse é a primeira impressão que o leitor terá sobre o seu livro. O primeiro impacto. Portanto lembra-se de que um revisor ortográfico e gramatical é fundamental.
Como dito acima, a sinopse, num primeiro momento, pode parecer simples; em seguida, assustar por ser uma etapa exigente do processo de escrita de um livro, além de se mostrar tão importante. Entretanto ela é apenas uma fração de toda a complexidade que está por trás das páginas que amamos ler!
Obrigada por ler este artigo até o fim e eu espero que tenha ajudado em seu momento de dúvida!